domingo, 15 de março de 2009

REUNIÃO DE PESSOAS INCRÍVEIS COM BRILHO NOS OLHOS

Depoimento do ex-aluno e meu colega de turma Marcelo Pliger:

É difícil falar sobre o Imaco, aconteceu tanta coisa!

Entrei na primeira série e saí no terceiro colegial. Dos seis aos sete anos. Onze no total! Um tempão. Quando entrei na faculdade, representavam dois terços da minha vida.

Adorava estudar lá. Bem no fundo da minha cabeça oca de adolescente, pré-adolescente e pré-pré-pré-adolescente, acho que eu percebia que o conjunto de professores e administradores, o conjunto da coisa, queria (de verdade) transmitir algo mais do que meras informações. Só com um pouco mais de maturidade me dei conta que aquilo que eu via nos olhos deles, era tesão de formar pessoas legais, bacanas e honestas. Acho que tinha muito carinho envolvido no empenho de todos. Isso fazia toda a diferença. Era mais do que uma empresa, era um projeto coletivo.

Aprendi um monte lá. Coisas fundamentais que nem pensando por muitos anos eu conseguiria listar. As não tão fundamentais eu também aprendi, claro. Um monte delas. Eu diria até que a maioria. Continuo bom em geometria e história, nunca aprendi química e desaprendi o pouco que sabia de gramática graças a reforma ortográfica. Tenho tesão em trabalhar que nem o Zé Legal vibrava lendo textos de filosofia. Solto frases estupidamente bobas pra requilibrar situações de disciplina difícil sem conseguir o mesmo talento das frases antológicas do Giba e entendi com o Frei Odair, que "agente é tudo a mesma porcaria" (palavras dele). Você pode ser Deus, um mendigo, assassino ou herói de roupas coloridas (eu lia quadrinhos demais na época). Você é sempre simplesmente você. Tão complexo e importante quanto todas as outras pessoas do mundo. Tão falho e limitado também. Tão cheio de boas intenções e más condutas e vice versa. Enfim, somos diferentes, diferentes histórias e tal, mas tem alguma coisa que nos une na nossa condição de estarmos vivos. Acho que "porcarias" funcionou melhor pra eu entender do que "somos todos irmãos" (papo religioso etc), que diferenças nos somam e que estamos muito mais próximos uns dos outros do que imaginamos.

Aprendi com o Zequinha que, biologicamente falando, o corpo humano é capaz de segurar a urina por até cinco horas. O que me fez aprender a aguentar, por alguns minutos a mais, a agústia de querer sair de lugares chatos e obrigatórios como uma sala de aula ou uma reunião mala. Descobri mais tarde, que excessivas cinco horas sem urinar ajudam a formar pedras no rim e elas doem que é uma loucura. E então, aprendi também que paciência tem limite.

Aprendi um monte de coisas legais com todo mundo, com todos os outros professores, os amigos e os nem tão amigos. Aprendi a amar, a brigar, sorrir, chorar, discutir, concordar, sei lá, um monte de coisas fundamentais pra se exercitar quando se está crescendo. Aprendi essas coisas como todo mundo aprende, dando topada por aí. O Imaco proporcionou um cenário adorável pra essas topadas. Uniu pessoas incríveis para ficarem dando topadas juntas! Olha só que maravilhoso!! Foi o melhor e mais divertido carrinho de bate-bate que eu já brinquei. E ao invés de acabar em cinco minutos como de costume nos parques, durou mais de dez anos.

Não é uma lista nem perto de completa e já acho que é um depoimento longo demais. Mas é o que me saiu aqui tamburilando rápido na frente do computador. Acho que ainda vou descobrir por muito tempo mais e mais coisas que aprendi no Imaco e que ainda nem faço idéia. Prometo não manter a lista atualizada por que ninguém tem saco de ouvir divagação alheia sobre a vida.

Confesso que não sinto saudades daquela época, sinto orgulho carinhoso, uma sensação confortável e bacana. Eu era criança e hoje sou diferente, tudo é diferente. Sinto saudade das pessoas, saber como estão, o que aconteceu com elas. Professores e alunos. Eram pessoas incríveis. O Imaco era isso, uma reunião de pessoas incríveis com brilho nos olhos.

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